Vidrotexto 1

1991

“O som da chuva contra o som das fontes, o contínuo do céu de fora contra o contínuo do chão de dentro. Olho o desfile das vitrines misturadas, a prata enlutada dos seus brilhos e o cortejo fúnebre das mercadorias. Estou bem de passagem, aéreo, sem pisar o peso das minhas solas, de suas bolhas. Estou deitado embora vertical, contra a corrente também aérea dos em-pé caídos, assim dormidos e sem raiz, mortos movidos. Trago os apostos trocados, a parafina no nariz, o óleo nas orelhas e a água por toda parte. Há também o branco súbito em meio ao granito gris e comprimido (com buracos moles conquistados), o vidro transparente (com opacidades conquistadas), couros que são pele, peles que são carne, carnes que são osso, ossos brancos e a felicidade”.

Trecho do livro Cujo